Vinte Sonhos de Rua e uma História de Amor!

A ideia de fazer um canal no Youtube (Vez e Hora do Brasil, link: https://www.youtube.com/channel/UCPnV81kXJ4y2YOKVKZmf7Zg ), surgiu em uma almoço na casa do jornalista e pesquisador de cultura Assis Ângelo, entre eu, Carlos Sílvio, Helvídio Mattos e o próprio Assis. Mas não é disso que quero falar.

Na trajeto entre a casa de Assis e a de Helvídio, em uma quinta-feira, após a gravação Helvídio diz: “Na próxima quinta-feira não conseguiremos gravar”. “Será o lançamento do livro que fiz com meu amigo Paulo Escobar”, acrescentou.

Fiquei curioso e quis saber mais sobre o livro.

“Eu e o Paulo colhemos depoimentos de moradores de rua, transcrevemos, fizemos o livro que se chama ‘Vinte Sonhos de Rua e Uma História de Amor’ e vamos lançar dia 24/10, na Mooca”, disse Helvídio.

Confirmei presença.

Cheguei no local com 20 minutos de antecedência. Helvídio, Paulo e alguns amigos já estavam lá. Fui apresentado a todos por Helvídio.”Esse aqui é o Paiaiá”, disse ele.

Mais pessoas chegavam e aos poucos o “Repancho’s Bar estava lotado.

Comecei a conversar com o Paulo Escobar. Vestido com a camisa do Flamengo, esbanjava felicidade. A alegria dele não era apenas pela vitória do seu time sobre o Grêmio, por 5 x 0, um dia antes. Era, também, a felicidade de um CIDADÃO que luta em ver o mesmo sorriso em pessoas que são desprezadas pela sociedade e pelo o Estado. Paulo e Helvídio, com satisfação, não sei se de dever cumprido, mas de que fizeram muito  para melhorar a vida dos “moradores de rua” dos grandes centros urbanos e que estão esquecidos.

O livro é composto por vinte depoimentos de “moradores de rua”. Alguns desses 20 ali estavam. Sim, felizes e emocionados.

Os “moradores de rua” são pessoas que vêm de diferentes vivências e que estão nessa situação pelas mais variadas razões. Há fatores, porém, que os unem: a falta de uma moradia fixa, de um lugar para dormir temporária ou permanentemente e vínculos familiares que foram interrompidos ou fragilizados.

Comecei a observar que um rapaz com a camisa do Fortaleza e qeu fazia carinho em um carrocho enquanto observava sua companheira ler o livro. O cachorro não arredava o pé dali. Dizem que o melhor amigo do homem é o cachorro. O cachorro percebia também que sua história estava naquele livro. Ele estavam ouvindo, em seu silêncio peculiar a leitura de sua rotina, também.

Me atentei para uma moça que lia e livro e se emocionava. Seus olhos cheios de lágrimas, de emoção, de brilho, de satisfação em ver seu nome, sua história, em um livro, era como se alguém tivesse lhe chamando pelo nome pela primeira vez.

Helvídio Mattos e Paulo Escobar deram vez, deram voz, deram a importância que todos esses cidadãos merecem e que precisam ser tratados como iguais. Como todos nós.

Seis ou sete personagens do livro estavam ali para presenciar o lançamento do livro que contava suas histórias. Histórias relatadas por eles mesmos. Entre eles um rapaz com a camisa do time Corote e Molotov (time amador que ele joga), me chamou atenção e resolvi puxar conversa com ele.

Todos eles têm a sua história e os motivos que os levaram a viver esta vida que considero pior do que se fosse de um animal. Mas eles são seres humanos! Um dia tiveram uma família, um lar e uma posição social.

Formado em Web Designe, Rafael se expressa com muita facilidade. Me contou sobre sua vida, sua infância, sua luta diária, o frio que passa em tempos de inverno embaixo de um viaduto e o porque estava na rua. Foi uma conversa de aproximadamente 15 minutos e encerramos com ele me convidando para conhecer o seu “lar’no dia que eu quisesse.

Eu li o livro em um dia. Me emocionei em várias partes. Ao ler os sonhos que todos esses personagens do livro tinham e têm, parei para refleti sobre… Os autores se preocuparam em deixar o livro com as falas originais de seus personagens e ao ler não tem como não se colocar no lugar deles.

A cena é comum e muitas vezes é triste e constrangedora. A primeira sensação que temos é de medo e de susto, e então procuramos evitar qualquer contato temendo alguma agressão. Afinal, ouvimos e lemos histórias que nos contam e nos enchem de medo e até de pavor, relacionadas a essas pessoas que vivem nas ruas ou praças e dormem sob pontes ou marquises. Por isto tratamos sempre de evita-las.

O livro de Helvívio e Paulo propõe uma reflexão sobre esta triste situação, hoje, quando a sensibilidade é mais aguçada e se fala tanto na fraternidade cristã. Muitos estão ocupados com festa, gastos exorbitantes e desnecessários, com presentes e ostentação. Vamos lembrar, nem que seja por um minuto, de nossos “irmãos” que são moradores de rua e perambulam por aí sem esperança e sem abrigo.

No livro há sonhos (ainda vivos), choro, há risadas, famílias, caminhadas, sorrisos sinceros, brincadeiras, como um dos personagens que falou que Helvídio Mattos parece com Jô Soares, porém, magro. Há vinte sonhos e a história de amor entre Adriano e Fátima.

Vale ressaltar que políticas públicas são de responsabilidade do governo federal, dos estados e dos municípios brasileiros quanto à assistência social para a população em situação de rua no país. As garantias constitucionais de dignidade da pessoa humana e do direito à moradia já colocariam essa responsabilidade ao Estado, mas também foram feitas leis específicas para essa população.

Mas adianta leis se não as cumpre?

Helvídio Mattos e Paulo Escobar fizeram uma tabelinha que resultou em um gol de placa!

Lançamento do livro “Vinte sonhos de ruas e uma história de amor”, de Helvidio Mattos e Paulo Escobar, foi um dos eventos mais importantes que já fui, em 21 anos de São Paulo.
Não é apenas um livro…

Texto e fotos: Carlos Sílvio

 

 

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisa

Categorias

Popular Posts

Compartilhe